Especialista em saúde mental da UFMG alerta para os cuidados com os trabalhadores de hospitais

Com as medidas de isolamento, necessárias para se evitar um alto número de infectados com o novo coronavírus, surgiram alertas para os cuidados com a saúde mental da população, que está em isolamento social.  Enquanto a maior parte dos cidadãos permanece em casa, do outro lado, milhares de profissionais da saúde, que estão na linha de frente dos atendimentos aos pacientes, não podem parar. Para eles, os cuidados precisam ser redobrados por acolherem pessoas possivelmente contaminadas. Outro problema que impacta esses profissionais começa a preocupar gestores hospitalares e especialista é a condição da saúde mental desses trabalhadores.

De acordo com o psiquiatra e membro do Observatório da Saúde do Trabalhador (Faculdade de Medicina da UFMG), Helian Nunes de Oliveira, esses profissionais podem apresentar sentimentos e sensações de medo, angústia, ansiedade, cansaço, insônia, irritabilidade, incluindo até ataques de pânicos, e sintomas depressivos ou psicóticos. Ele explica ainda que para se evitar a manifestação ou agravamento de alguns desses quadros, é necessário ter cuidados diários com a saúde mental. “O profissional deve ter o cuidado de manter um ritmo equilibrado no trabalho; fazer pausas para descanso, não estender plantões, manter o sono regular, alimentação saudável, atividades físicas e a interação social com a família e amigos, mesmo que seja pela internet, nas situações de isolamento”, alerta. Ele completa, ainda, que os profissionais da saúde devem procurar o descanso e a distração com atividades prazerosas, e evitar o acesso excessivo as notícias e mensagens das redes sociais relacionadas ao coronavírus.

Outro alerta importante do psiquiatra é que, mesmo após a pandemia, podem ficar sequelas emocionais e transtornos mentais crônicos. “O profissional de saúde pode apresentar quadros ansiosos (transtorno de estresse pós-traumático), alterações do humor (depressão), abuso de substâncias psicoativas e até dificuldades cognitivas ou emocionais para lidar com o seu trabalho e até com a vida”. O médico, Helian Nunes recomenda, que, em caso de surgimento de sequelas é importante procurar um profissional para avaliação e acompanhamento, em especial psiquiatras e psicólogos.


ATENÇÃO ESPECIAL

Segundo a Federação Nacional dos Enfermeiros, as categorias da enfermagem somam cerca de 2,3 milhões de profissionais e representam mais de 60% da força de trabalho da saúde. Já o Conselho Federal de Medicina aponta que o total de médicos em atividade no país está em cerca de 490 mil. Com o avanço da pandemia, instituições de saúde em todo o país estão se estruturando para os atendimentos da COVID-19. As mudanças não se limitam apenas aos espaços físicos, as rotinas dentro e fora do trabalho dos profissionais de saúde, também foram afetadas.

A enfermeira Neila Felix, que trabalha no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do grupo Santa Casa BH, relata que, diante das exigências da pandemia, algumas medidas estão sendo tomadas para manter equilíbrio entre trabalho e saúde mental.  “Toda equipe tem organizado revezamento das atividades; todos os dias nós reunimos a equipe, , estamos abertos ao diálogo; oferecemos cuidados como massagem para relaxamento, além de ter todo o suporte psicológico dos profissionais de RH do Grupo Santa Casa”, afirma.

 

MUDANÇA DA ROTINA EM CASA

A enfermeira Neila Felix diz que, devido à jornada de trabalho, que pode chegar até 19h em um dia, seu companheiro foi quem assumiu as tarefas da casa. Ela conta que tem uma filha de dois anos de idade, e que o contato entre elas tem sido em maior parte por ligações e vídeo-chamadas, e que apenas no domingo pode passar um tempo maior com a criança.

Outra mudança importante e que impacta no dia a dia dos profissionais de saúde é que, seguindo protocolos sanitários, algumas medidas como visitas e acompanhamento de pacientes foram suspensas ou restritas. A enfermeira conta que, agora, a assistência tem ainda a tarefa de prestar suporte emocional aos pacientes internados. “A gente se propõe a ouvir e cuidar de pacientes transplantados, pacientes com câncer, em hemodiálise, ou seja, pacientes que não podem parar os tratamentos”, conclui. Ou seja, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem se tornam a família de quem está internado nos hospitais.

APOIO E RECONHECIMENTO

Apesar do medo de estar na linha de frente nos atendimentos de COVID-19, Neila conta que há um entendimento, por parte dos profissionais de saúde, que esse momento demanda muita união e colaboração. É a mesma opinião do psiquiatra Helian Oliveira, que alerta para que as instituições garantam suporte à esses profissionais. “As unidades devem investir na qualidade de vida no trabalho, manter reuniões de equipe; evitar a sobrecarga nos diversos setores; e encaminhar para acolhimento, avaliação ou tratamento todos os profissionais que estiverem apresentando alterações do humor, comportamento ou na produtividade”, afirma.

Diversos gestores de hospitais filantrópicos do estado já estão atentos a esse cuidado. Na Santa Casa de Belo Horizonte, por exemplo, a comunicação interna repassa diariamente informações para os 1.500 trabalhadores do hospital. Já no Hospital Mario Penna, a equipe de psicologia está oferecendo atendimento on-line para os colaboradores da assistência de terapia intensiva.

No Hospital São Paulo, em Muriaé, além de orientações, um psicólogo do trabalho foi colocado à disposição dos funcionários; há visitas monitoradas aos setores e também foi disponibilizando atendimento em horário noturno para os plantonistas.

Em Barbacena, o Hospital Ibiapaba CEBAMS disponibiliza atendimento psicológico presencial os profissionais que solicitam; dicas de saúde mental com profissionais do RH e atualização constante sobre a situação do COVID-19. A colaboradora do hospital e psicóloga do trabalho, Eliane Miranda, fala sobre a importância do acompanhamento. “Se o colaborador estiver emocionalmente abalado, a possibilidade de erro é maior. Estamos apresentando novas possibilidades de enfrentamento desta crise, através de acolhimento psicológico presencial das pessoas, bem como das lideranças, que precisam manter suas equipes seguras neste momento”.

Países europeus manifestaram solidariedade e apoio aos profissionais da saúde, através de um aplauso coletivo das sacadas de suas casas e apartamentos. A atitude solidária chegou ao Brasil e, como forma de reconhecimento e motivação, o gesto foi repetido para parabenizar e apoiar estes profissionais que já estão sendo chamados de “heróis.”

Roberta Nascimento (técnica em segurança do trabalho); Daniel Azalim (enfermeiro e coordenador do SCIH); e Eliane Miranda (psicóloga do trabalho), do Hospital Ibiapaba CEBAMS

 

Por Raquel Gontijo – Assessoria de Comunicação Federassantas

Compartilhar esse post