Alzheimer: o que é e como funciona o novo tratamento aprovado nos EUA

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo a mais comum a doença de Alzheimer

A Food and Drug Administration (FDA) – agência reguladora de saúde dos Estados Unidos – aprovou, no início deste ano, um novo tratamento para a doença de Alzheimer em estágios iniciais. A Leqembi é uma medicação intravenosa, com custo de US$ 26.500, e deve ser administrada a cada duas semanas, prometendo retardar o déficit cognitivo.

O estudo de estágio final foi o mais recente a testar uma teoria de três décadas de que o Alzheimer é desencadeado por amiloide que se acumula no cérebro dos pacientes e pode ser retardado por medicamentos que removem o acúmulo dessa proteína.

Apesar dos resultados positivos nos ensaios clínicos de Fase 3, em que a droga reduziu o declínio cognitivo em 27%, ela também apresentou riscos: foram notados alguns efeitos colaterais em pacientes que usaram a medicação durante a pesquisa, entre eles inchaço cerebral e sangramento.

Segundo o médico neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, uma nova geração de medicamentos voltados para o tratamento do Alzheimer é algo muito importante, já que a esperança seria evitar a progressão dos principais sintomas da doença – a perda da memória e a incapacidade de realização de atividades básicas do cotidiano.

Segundo o médico neurocirurgião Felipe Mendes, uma nova geração de medicamentos voltados para o tratamento do Alzheimer é algo muito importante, já que a esperança seria evitar a progressão dos principais sintomas da doença. (Foto: Ana Slika/Divulgação)

“Até hoje, todos os medicamentos existentes infelizmente não conseguiram modificar, de forma efetiva, a história natural da doença.” O neurocirurgião pondera que o tratamento, além de não servir para pacientes que já possuem um quadro avançado da doença, tem alguns efeitos colaterais relacionados, entre eles, sintomas que lembram um resfriado.

“O mais preocupante é a possibilidade de edema ou inchaço cerebral, além de sangramentos cerebrais. Muitos desses sinais foram percebidos em exames de imagem, sem muita repercussão clínica. Contudo, são eventos potencialmente catastróficos que podem levar a sérias consequências, necessitando de acompanhamento de perto, avaliando muito bem o risco/benefício.”

Segundo Felipe Mendes, por conta disso, existe um debate entre os especialistas sobre até que ponto esse remédio é tão vantajoso, considerando ainda que o estudo mostrou uma incidência relativamente elevada dessas complicações, em torno de 12%.

“Isso precisa ser debatido muito bem entre a equipe médica, o paciente e seus familiares, para que seja avaliado o melhor momento e pesados os prós e contras do início desse tratamento.”

Ainda são necessários mais estudos, assim como todo medicamento em fase inicial, com um período maior de acompanhamento, para que haja definição mais nítida se a medicação realmente é eficaz e com perfil adequado de segurança.

De acordo com o especialista, trata-se de um território desconhecido que precisa ser desbravado e só estudos a médio e longo prazo poderão definir se é um tratamento com resultados duradouros.

“Por isso é importante que todo medicamento, em sua fase inicial, seja muito bem avaliado, principalmente pensando em risco/benefício e que isso seja muito bem exposto para o paciente e para a família, para que, ciente dos riscos, eles avaliem se realmente querem testar essa nova modalidade terapêutica.”

Entendendo mais sobre a doença

A doença de Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que tem como característica inicial a perda cognitiva, que envolve áreas como a memória, a capacidade de raciocínio, a resolução de problemas e está fortemente ligada a atenção e foco.

Podem acontecer mudanças comportamentais e o comprometimento progressivo das atividades do dia a dia. De acordo com a médica geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, da empresa especializada em home care, Saúde no Lar, a doença pode se manifestar de forma lenta e, à medida que os anos passam, acaba evoluindo com aumento das perdas.

“Os primeiros sinais são a perda de memória de curto prazo, que podemos caracterizar como a dificuldade de lembrar de acontecimentos que acabaram de acontecer ou recentes. A pessoa vive o momento, mas ele não fica registrado e, portanto, não consegue se lembrar dele.”

De acordo com a médica geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, a doença pode se manifestar de forma lenta e, à medida que os anos passam, acaba evoluindo com aumento das perda. (Foto: Jordana Nesio/Divulgação)

A especialista conta que, à medida que a doença evolui, outros sintomas, como incapacidade de escolher uma roupa ou sair de casa sozinho, se somam à perda da memória. “Em fases mais avançadas, piora os movimentos do paciente, deixando-o acamado e sem capacidade de engolir. As complicações, como infecção urinária ou pneumonia, ficam mais frequentes e podem levar à morte.”

Segundo Simone, até o momento, existem medicações que, na maioria dos pacientes, lentificam a piora cognitiva, caracterizando uma melhora na qualidade de vida. Eles são os anticolinesterásicos, como Donepezila, Rivastigmina e Galantamima. Em fase moderada a avançada, pode ser indicada também a memantina.

Associadas à medicação, várias terapias complementares podem ajudar o paciente a manter sua funcionalidade, como atividade física assistida, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicólogo, nutricionista, dentre outros.

Os resultados das pesquisas e estudos acabam sofrendo influência do meio que o paciente vive (cultura, hábitos) ou mesmo de doenças comuns do envelhecimento que pioram o quadro cognitivo, interferindo nos resultados obtidos com as medicações. A geriatra pondera também que é necessário mais tempo para ver o resultado e garantir a segurança no seu uso.

Com relação à medicação aprovada pela FDA, a médica, que lida diretamente com esse tipo de paciente, também acredita, como o neurocirurgião, ser um grande avanço. “Serão necessários mais estudos e um acompanhamento dos pacientes em uso para saber, além da sua eficácia na doença, os efeitos colaterais que podem causar. Após esses conhecimentos, haverá uma definição de qual fase da doença poderá ser iniciada para gerar um maior benefício”, ressalta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo a mais comum a doença de Alzheimer, que atinge sete em cada dez pessoas em todo o mundo.

De acordo com a Alzheimer’s Disease International, sediada no Reino Unido, os números globais poderão chegar a 74,7 milhões em 2030, e a 131,5 milhões em 2050.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que em torno de 1,2 milhão de pessoas têm a doença e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Embora o Alzheimer não mate diretamente, as consequências das perdas funcionais podem levar à morte. O corpo, à medida que a doença avança, torna-se mais frágil e suscetível a doenças, como pneumonia e outras infecções.

“O fato de o paciente ter dificuldade para mastigar e engolir corretamente pode levar a entrada de comida nas vias aéreas que chamamos de aspiração, gerando pneumonias. As infecções urinárias tornam-se mais frequentes pelo uso de fraldas geriátricas devido à incontinência urinária. A instabilidade no caminhar ocasiona elevação do risco de queda e, quando esta acontece no fêmur, pode deixar o paciente acamado piorando as outras complicações ou mesmo a morte”, finaliza Simone de Paula Pessoa Lima.

 

Fonte: Estado de Minas

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