Trabalhadores reclamam de sobrecarga de trabalho. Somente nos primeiros 17 dias deste ano, Minas registrou mais infecções por coronavírus do que a soma dos três últimos meses de 2021
Após quase dois anos de enfrentamento da pandemia, os profissionais de saúde voltaram a encarar, nas últimas semanas, uma rotina de unidades lotadas e sobrecarga de trabalho, diante do aumento de casos de gripe e Covid-19.
“A demanda está alta demais. Os profissionais estão saindo daqui exaustos, parecendo que estavam na guerra. A gente vê crianças doentes esperando vaga nos hospitais por dias, idosos dormindo na cadeira porque não tem maca, e se sente impotente. Fazemos o possível e o impossível”, diz a técnica de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Venda Nova e diretora do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), Isabel Cristina da Cruz.
Somente nos primeiros 17 dias deste ano, Minas Gerais registrou mais infecções por coronavírus do que a soma dos três últimos meses de 2021. Na capital, a incidência de casos de Covid-19 aumentou 1.724% em menos de 20 dias, entre os dias 24 de dezembro e 13 de janeiro, de 16,2 novos casos por 100 mil habitantes para 295,5.
“A demanda aumentou escandalosamente. Não bastasse isso, nós estamos convivendo agora com o adoecimento importante dos profissionais. Vários estão testando positivo, precisando ficar afastados, o que causa uma sobrecarga ainda maior sobre os que ficam”, afirma o médico de família de um centro de saúde da Região Leste de BH e diretor do Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais (Sinmed), Artur Mendes.
Segundo ele, os profissionais também têm enfrentado adoecimento mental. “Além da pressão por atendimento, tem a frustração por não conseguir dar conta (de toda a demanda). A situação é muito grave, em algum momento a bolha vai explodir. Os profissionais não estão suportando”, diz.
Na semana passada, o Sinmed enviou uma notificação extrajudicial para a Prefeitura de Belo Horizonte para relatar a sobrecarga do sistema de saúde e o déficit de profissionais que, segundo a entidade, “estão trabalhando com a jornada estendida para atender a necessidade da comunidade, muitos há meses sem gozar férias ou folgas”.
O sindicato pede a convocação de médicos aprovados no último concurso público, realizado no ano passado, a contratação emergencial de profissionais e melhorias na remuneração.
Já o Sindibel solicita a abertura de centros de testagem pública de Covid-19 para desafogar centros de saúde e UPAs, ampliação de pontos de vacinação e contratação de enfermeiros.
O que diz a prefeitura
O g1 Minas questionou a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte sobre a sobrecarga e o déficit de profissionais de saúde.
A pasta disse, na tarde desta segunda-feira (17), que ainda não recebeu a notificação do sindicato de médicos e que mantém “contato constante” com a entidade.
“Desde o início do aumento na demanda, devido ao aumento de casos de doenças respiratórias, a Prefeitura tem trabalhado ininterruptamente para recompor as equipes, reforçar e ampliar o atendimento à população de forma a garantir a melhor assistência e condições de trabalho”, disse a secretaria.
Segundo a prefeitura, entre os dias 24 de dezembro a 14 de janeiro, foram contratados mais 1.125 profissionais, dos quais 251 médicos “de diversas especialidades”. O último concurso, realizado em 2021, tem previsão de homologação ainda em janeiro.
Interessados em trabalhar como médicos da prefeitura podem inserir o currículo no site.
“No que se refere à realização de testes, desde outubro do ano passado a Prefeitura ampliou a oferta de testagem. Todos os pacientes que procuram as UPAs e Centros de Saúde, com sintomas respiratórios, são testados, por meio de teste antígeno (teste rápido), para Covid-19, para diagnóstico diferenciado. Grávidas, puérperas ou pessoas com comorbidade que tiverem sintomas respiratórios, com teste rápido negativo, são submetidas também ao PCR para diagnóstico definitivo. A Prefeitura está abastecida com testes e insumos para realização de exames para detecção da Covid”, disse a pasta.
Sobre a ampliação dos postos de vacinação, a prefeitura disse que a estratégia é manter a imunização nos 152 centros de saúde, em drive-thru, shoppings e postos fixos para repescagem. Já a vacinação das crianças ocorre nas escolas.
A prefeitura disse ainda que “monitora diariamente os números epidemiológicos e assistenciais da doença no município e qualquer agravamento que comprometa a capacidade de atendimento será tratado da forma devida, com o objetivo de preservar vidas”.
Por Rafaela Mansur, G1 Minas
Foto: TV Globo/ Reprodução