A recessão que assola o país tem afetado todos os segmentos
O setor da saúde não fica de fora. O problema nesse caso é que, além do cenário adverso, os hospitais já passam, há algum tempo, por um processo de falta de verbas devido ao seu alto custo. O Edição do Brasilconversou com a sócia-diretora do Instituto de Acreditação e Gestão em Saúde (IAG Saúde) e doutora em Ciências da Saúde, Infectologia e Medicina Tropical, Tania Grillo, para saber como as instituições do Estado estão lidando e suportando esse momento de crise. “A desvalorização do real nesses últimos 12 meses colabora para a diminuição da receita e aumento de custos. O cenário não é de tranquilidade”, afirma.
Qual é a atual situação dos hospitais de Minas?
Como todo setor do Brasil existem impactos positivos e negativos. Essa é uma área que cronicamente já sofre muito com essa questão de financiamento. Há uma grande diferença entre os hospitais totalmente privados, filantrópicos e públicos, mas em geral eles já vêm sentindo, há algum tempo, esse problema. A crise econômica impacta diretamente os hospitais da Saúde Suplementar e com o aumento da taxa de desemprego, muitos trabalhadores também perdem o acesso aos planos de saúde corporativos e, com isso, geram uma menor demanda para as instituições.
Outro ponto é que o beneficiário com o risco de empregabilidade tem diminuído também a sua busca pelos serviços, em especial de urgência e emergência. Isso contribui diretamente, em alguma extensão, para uma diminuição das internações hospitalares reduzindo a receita. Por outro lado, praticamente todos os insumos para assistência no hospital possuem não apenas a carga tributária alta, mas também são adquiridos em dólar, como é o caso dos equipamentos. Com a desvalorização do real nesses últimos 12 meses isso colabora para a diminuição da receita e aumento de custos. O cenário não é de tranquilidade.
Os medicamentos estão em falta?
Nós não podemos dizer que faltam medicamentos. Pode haver pontualmente algum desabastecimento por motivos dos mais variados, até mesmo por dificuldade de importação. Mas não tem como generalizar que isso seja uma realidade nos hospitais. Essa questão tem que ser contingenciada e tratada pelas instituições. Agora, se estivermos nos referindo a hospitais essencialmente do SUS, eles têm um cenário um pouco diferente, porque possuem um rigor de necessidades de licitações e verbas dos governos. Muitas vezes essas verbas acabam tendo atraso na disponibilidade e isso pode retardar os programas licitatórios, o que acarreta na falha da distribuição. Porém não podemos afirmar que isso aconteça em todas instituições.
A mesma coisa acontece com os equipamentos. As nossas dificuldades são oriundas de receitas que vêm diminuindo devido aos fatores do cenário econômico brasileiro. O custo aumenta porque está atrelado a questão inflacionária e ao dólar. No meio disso tem também a necessidade de melhorar os processos internos dos hospitais e, fazer isso dentro de um momento insatisfatório, procurarmos pelas oportunidades. São nelas que estão a ponte que faz uma instituição sair de uma situação de falta de equilíbrio econômico financeiro para uma mais favorável, mesmo diante do cenário atual.
Algum hospital corre o risco de ter que fechar alas ou até mesmo as portas?
Não temos conhecimento. No entanto dados disponíveis no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) mostram uma redução no número de hospitais e leitos ao longo dos últimos 6 anos, variando em torno de 16% a 25%. Isso é um fenômeno nacional.

O que o governo federal pode fazer para auxiliar o problema?
É necessário reerguer o país em diversas frentes. Todos os bons programas que busquem otimizar o crescimento econômico, mas que essa medida se faça a luz de investimentos, infraestrutura, saneamento, educação, repercutem de uma forma bem favorável dentro do segmento de saúde como um todo. Isso é indiscutível.
Outro fator importante é o financiamento do sistema, especialmente a respeito da filantropia e hospitais públicos. Já existem grandes discussões de reavaliação desse modelo. Por mais que se injete cada vez mais dinheiro, dificilmente os resultados serão os melhores possíveis. É fundamental haver um somatório da revisão do financiamento com aumento e valorização atrelado a excepcionais resultados assistenciais. Hospitais precisam ter condição de prestar uma assistência cada vez melhor e segura para o paciente. É dessa forma que os custos caem e isso se torna um sistema viável.
(Fonte: Jornal Edição do Brasil )