Pacientes psiquiátricos da Santa Casa de Três Pontas lançam livro durante Sarau de Natal

Em clima de Natal, a Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis de Três Pontas, alinhou canções, amor, medicina e arte e realizou na primeira semana do mês, um Sarau de Natal com diversas atrações artísticas, exposição e venda de trabalhos manuais, como por exemplo, artigos de decoração e presentes como caixinhas, guirlandas, tapetes, quadros, porta talher, desenvolvidos pelos pacientes da Ala Psicossocial “Dr. Paulo Nogueira Resende”, inaugurada em 2012.

O Hospital São Francisco de Assis de Três Pontas promoveu, no dia 06 de dezembro um Sarau de Natal que teve como principal atração o lançamento da obra literária “Todo mundo, toda gente”. O livro nasceu do projeto “De poeta e louco todo mundo tem um pouco”, elaborado pela assistente social Tatiane de Brito e pela psicóloga Brunna Mendes. O trabalho foi desenvolvido com o intuito de incentivar a produção poética possível através das experiências e afetos. O livro é composto de poesias e ilustrações realizadas pelos pacientes portadores de doenças psíquicas e dependentes químicos, onde nele eles expressam suas emoções, percepções, ideias e histórias de vida, marcadas pela existência de cada um.

O exemplar de poesias tem 23 páginas, produzido por 12 pacientes que foram atendidos no Hospital São Francisco de Assis e impressos pela Belo Gráfica. A publicação foi autorizada pelos familiares, mas sem identificação dos pacientes. O livro está sendo comercializado a R$10 cada um, no próprio Hospital e em breve no comércio. A administradora do Hospital e neuropsicóloga Dra. Flávia Eugênia Souza Rocha orientou os trabalhos. Quando chegou em Três Pontas, percebeu que era preciso incluir uma atividade no setor psicossocial. No século XIX, nos hospitais psiquiátricos franceses eram desenvolvidas oficinas de arte terapia. No Brasil, este tipo de trabalho só era realizado após a saída do hospital, nos CAPS ou NAPS.

Livro “Todo mundo, toda gente”, publicado pelos pacientes psiquiátricos do hospital

De acordo com Dra. Flávia, orientar o paciente psiquiátrico no momento do surto e do adoecimento mental é o que foi realizado na Santa Casa. Os profissionais colocaram eles no período da internação para produzir algo e segundo ela, isto é pioneiro em hospitais gerais e deve ser o primeiro no Brasil. Ela tem experiência. Seu mestrado e doutorado trouxe justamente este tema. Retomar esta prática do século passado, que foi um grande desafio para a equipe inteira.

A equipe médica, formada por enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e diversos profissionais foram envolvidos neste trabalho de arte terapia. Os textos dos pacientes que escreveram foram escolhidos e analisados quais tinham condições de participar, não apenas na obra, mas em vários projetos que mudaram a rotina não apenas da instituição, mas a vida de cada um e trouxe novas perspectivas aos seus familiares.

Na visão da neuropsicóloga, o sofrimento mental, traz um rótulo de incapacidade e de loucura. O projeto provou que no momento agudo, em que a doença está eclodindo, os pacientes podem sim produzir. Isto é um fenômeno comum, assim como existem os artistas que estão nas ruas, tocando e pintando. “Quando se coloca uma pessoa que sofre mentalmente para produzir, qualquer tipo de coisa em que ela tem habilidade, ela se sente no mesmo patamar de uma pessoa que é chamada de normal”, relata Dra. Flávia.

No momento em que os assistidos estão produzindo, a equipe percebeu que conseguia tranquilizar estes pacientes e trazê-los um pouco mais para a realidade, provocando preocupação com o corpo e integração com a família. Tudo que eles faziam ficavam com seus familiares e isto melhora a situação dos pacientes que sofrem de transtorno alimentar e não se alimentavam. Alguns produzem biscoito por exemplo, e acabam experimentando e se sentindo produtivos. “Isto resgata a auto estima, aproxima eles da sociedade, uma vez que eles se sentem e são na verdade um pouco marginalizados”, explicou.

O projeto aproximou funcionários de outros setores à Ala Psicossocial. Os trabalhos artesanais feitos pelos pacientes foram expostos, colocados à venda e leiloados durante o evento. Toda a renda será revertida ao Hospital na manutenção do próprio projeto.

Dra. Flávia que pretende tornar legítima e científica esta produção que existe dentro do Hospital de Três Pontas. Ao analisar os textos produzidos, a médica e administradora, disse que ficou surpresa com a coerências das poesias. O que eles não dão conta de verbalizar, escrevem, pintam e moldam com as mãos. Este trabalho de pensar e colocar no papel, demonstra qual o ponto os fazem sofrer, quais são as causas que os incomodam.

OUTROS TRABALHOS

O Hospital conta com o Projeto Arte-Terapia. A proposta objetiva oferecer um atendimento diferenciado em saúde mental. Entre as atividades que integram o projeto estão as oficinas de poesia, culinária e de artesanato.

A Ala

A Ala Psicossocial “Dr. Paulo Nogueira Resende” foi inaugurada em 2012 com o objetivo de ampliar a rede de assistência à saúde mental de pacientes em crise com internação de um período breve e após alta hospitalar serem acompanhados pelos serviços especializados do município, tais como o CAPS.

Por: Assessoria de Comunicação da Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis de Três Pontas

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