Sobrevida de R$ 52,9 milhões para quatro hospitais mineiros

Unidades receberam empréstimo do BDMG a juros menores

Quatro hospitais filantrópicos mineiros receberam, ontem, um total de R$ 52,9 milhões de recursos do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Considerados um alívio para as administrações das instituições, os valores serão destinados apenas ao pagamento de dívidas acumuladas e são, na verdade, um novo endividamento, porém com condições melhores de pagamento.

As primeiras instituições beneficiadas são a Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), de Belo Horizonte, que vai receber R$ 20 milhões; a Santa Casa de Montes Claros, no Norte de Minas, com R$ 14,8 milhões; a Santa Casa de Passos, no Sul do Estado, com R$ 10 milhões; e a Beneficência Social Bom Samaritano, em Governador Valadares, na região do Rio Doce, que vai embolsar R$ 8,1 milhões.

No total, 16 hospitais se inscreveram para receber o financiamento, por meio de edital lançado em março. Desses, seis não atenderam os critérios do programa, e outros seis ainda serão beneficiados, com um total de R$ 47,1 milhões. No momento, quatro estão em fase de análise, que deve ser concluída em um mês, e dois estão na etapa de documentação. Os nomes dessas instituições não foram divulgados.

“É uma linha específica para reestruturar dívidas que os hospitais tinham com o sistema bancário. Eles estão trocando essas dívidas por um novo endividamento com melhores condições”, disse o presidente do BDMG, Marco Aurélio Crocco. Entre as vantagens estão prazos mais longos de carência e juros mais baixos.

Segundo Crocco, para o BDMG, o objetivo do financiamento vai além dos benefícios à área de saúde. “Um hospital grande atrai população, incentiva o comércio e uma rede de fornecedores. Ter hospitais bons e qualificados atendendo é importante para o desenvolvimento de uma forma geral”, declarou.

O montante, no entanto, não é suficiente para cobrir o endividamento das instituições. Na Santa Casa de Montes Claros, que atende pacientes de 86 municípios, as dívidas chegam a R$ 22 milhões. “O Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre o custo. Há momentos em que temos que atrasar com fornecedores e recorrer a bancos, que oferecem recursos de curto prazo e custo alto, então esse financiamento vem em boa hora”, afirmou o provedor da instituição, Heli de Oliveira Penido, ressaltando a dificuldade de atender toda a demanda.

Mantenedora do Hospital Universitário Ciências Médicas (antigo São José), a Feluma acumula dívidas de R$ 28 milhões, somente com bancos. “Com o programa, a dívida fica mais barata, mais fácil de pagar, e, no momento de crise, a gente consegue estabilizar a situação”, disse o presidente da Feluma, Wagner Eduardo Ferreira.

Financiamento

Condições. O financiamento permite 12 meses de carência e pagamento em até 120 meses. A taxa de juros mensal é a partir de 1,43%, dependendo da receita bruta operacional de cada instituição.

FEDERASSANTAS

‘É preciso muito mais’, diz presidente

O financiamento por parte do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para os hospitais filantrópicos não é motivo de comemoração, segundo a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas). Conforme O TEMPO mostrou em julho, essas instituições acumulam dívidas de mais de R$ 2,5 bilhões e precisam “bancar” o Sistema Único de Saúde para manter os serviços.

“Não podemos negar que o financiamento ajuda, e, apesar de reconhecermos o esforço do governo, é preciso muito mais. Só o fato de os hospitais precisarem recorrer a uma linha de crédito é motivo de preocupação”, afirmou a presidente, Kátia Rocha.

Segundo ela, as dívidas dos hospitais filantrópicos continuam a crescer, em grande parte devido aos atrasos de repasses do governo do Estado. Ela diz que somente o Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais SUS/MG (Pro-Hosp) tem R$ 54 milhões pendentes. “A situação é dramática, e são necessários investimentos para chegar a um equilíbrio”, disse.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que liberou, em julho, R$ 220 milhões para o pagamento da Atenção Básica e para instituições vinculadas à SES e que, desde julho, outros cerca de R$ 450 milhões foram repassados. A pasta declarou que “está empenhando esforços para levantar recursos para regularizar a situação”. (RM)

SAIBA MAIS

Critérios. Entre os requisitos que os hospitais devem cumprir para receber os recursos, estão atender pelo SUS, ter mais de cem leitos e faturamento bruto anual superior a R$ 10 milhões, e fazer parte de programas do governo de MG.

Recursos. O dinheiro é repassado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Caso os hospitais não paguem as dívidas, a responsabilidade é do banco mineiro.

Flash

Fôlego. Na Santa Casa de Passos, no Sul de Minas, o valor da dívida é o mesmo do dos recursos recebidos. “O prazo mais longo traz fôlego para o fluxo do hospital”, afirmou o diretor administrativo da instituição, Daniel Soares.

Flash

Números. Minas tem 320 hospitais filantrópicos, sendo que 11 deles estão em BH. As instituições oferecem 18.941 leitos pelo Sistema Único de Saúde.

(Fonte: Jornal O Tempo )

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